Definir um povo com um português.
Hoje fui abordada por um grupo de rapazes. Eu ia passar para ir para o ponto onde a minha mãe me costuma buscar e eles barraram-me o caminho. Um deles meteu conversa com um "Olha, podemos abordar-te?". Eu parei, olhei para eles e pensei nem que seja para dizer olá e seguir; a mãe não tardava a chegar por isso não me ia demorar e se fosse para gozar quem daria baile era eu. Saí-me com um "Bem, já abordaste" e era verdade, não é? Então perguntas a uma pessoa se a podes abordar se isso já é estar a abordá-la? Acho que foi isso que pensaram porque se começaram a rir. Ainda estive a falar com eles um bom bocado em que me falaram deles e fizeram perguntas sobre se era uma estudante dali, em qual das faculdades andava, qual o meu curso e há quanto tempo estava por ali. Pelos vistos também andavam na de letras e deram-me mérito por estar metida onde estou - já toda a gente sabe as dores de cabeça que filosofia dá e o terror que é. Depois de afirmarem que as pessoas da FLUL eram pessoas fixes, e de já os ver a falaram uns com os outros, acabei por perguntar se queriam alguma coisa. Não é a primeira vez que vou na rua e sou abordada por alguém para algum tipo de questionário ou para me informarem de algo ou, claro está, com peditórios na manga. O que me disseram foi que tinham feito uma aposta entre eles e que andavam a escolher pessoas ao acaso para a pôr em prática. Tinham acabado de abordar uma mulher mais velha e tinham ficado bastante tempo a falar, a rir com ela, na boa. Mas, por acaso, a mulher não era portuguesa. "És portuguesa?", esta pergunta foi-me feita por 3 ou 4 deles - eram uns 5 - e eu lá disse que sim. Essa era a base da aposta. Tinham apostado - o tipo de aposta que se faz da boca para fora, nota-se agora - que se abordassem um português eles iriam ser ignorados ou tratados com antipatia e mandados para um sítio que nós sabemos. Mais uma vez um "És portuguesa, não és?"; "Hmhm, sou", "Óptimo, acabaste de nos provar que estávamos errados.". Seguiram caminho com uma despedida amigável, chegando até a desejar-me boa sorte com os "doutores" que me dão aulas. Eu ri-me e fiquei a filosofar sobre o assunto. Definiram o povo português com base na minha atitude para com eles. Ainda que tenha achado piada à abordagem e aos seus objectivos, deu-me vontade de bater com a mão na testa também. Vejamos: o povo português é simpático, sim, mas depende da pessoas e, claro, se a abordagem lhes convém. Esta é a verdade perante o que eu penso. Mais rapidamente encontro pessoas com falta de chá - os jovens de hoje em dia, por exemplo (que nos leva logo para uma grande parte da população) -, do que pessoas que mostram decência nem que seja para um dedo de conversa ou até na dispensa de um serviço porta-a-porta qualquer. As coisas ainda melhoram naquele tipo de pessoas que não ajudam ninguém, falam mal com toda a gente, mas querem respeito para com eles e que se dê braços e pernas para os servir. Enfim. Claro que o português não é o único com problemas do tipo, se mo vierem dizer. Mas eu vivo em Portugal e faço parte deste povo; por isso, falo do meu.