Bolhas de sabão.
Perto de umas escadas rolantes, mesmo ao pé de uma esquina para um corredor, vi duas crianças e uma adolescente sentados no chão, rodeados por sacos, à espera de um adulto. Eram três jovens e dois estavam a morrer de tédio. O primeiro da fila já marcava uma posição: a cabeça tombada para trás e os olhos fechados eram indício suficiente de que se ninguém o tirasse dali ele iria adormecer; depois, a rapariga: o cabelo loiro preso num rabo de cavalo, de olhos escuros protegidos por óculos de leitura, a tagarelar ao telemóvel para passar o tempo, gargalhando enquanto agitava os pés e exibia os ténis Adidas; por fim, mais um rapaz: de pernas cruzadas à chinês, com o cotovelo apoiado num joelho enquanto uma mão oferecia apoio à cabeça e os dedos da outra desenhavam círculos no chão do centro comercial. A magia veio no momento em que esse mesmo rapaz foi chicoteado por uma ideia e endireitou ligeiramente as costas com ar de quem vai fazer travessuras. Vi-o a olhar para a rapariga e para o rapaz que o acompanhavam para garantir que estavam suficientemente distraídos, vi-o a olhar à sua volta para ter a certeza de que não era alvo da atenção de ninguém. Ele, claramente não me viu a olhar para si quando fez a mão entrar sorrateiramente dentro de um saco e retirou uma embalagem. Ele esboçou um pequeno sorriso ao desatarraxar a tampa e eu ao ver do que se tratava parei. Ele não iria fazê-lo. Iria? Fê-lo. Encheu os pulmões de ar e soprou para a varinha com arcos. Pequenas bolhas de sabão começaram a flutuar, descontroladas por existirem, umas subindo e outras colidindo com quem caminhava de mente tão confinada nos próprios assuntos para reparar nas bolhas loucas que festejavam a vida e a liberdade. Havia bolhas por todo o lado e nem mesmo a abundância levou o miúdo a querer parar. Estava claramente abstraído do que estava à sua volta e fechado na sua própria esfera, satisfeito e divertido, pouco se importando com o que se podia pensar da festa de sabão num sítio fechado. Eu em pensamentos agradeci-lhe por me plantar um sorriso no rosto, deliciada pela simplicidade das ideias de um petiz para ultrapassar o aborrecimento, sem ter mão na minha criança interior que me fez pensar em baloiços e se quis juntar a ele.