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Miss Nothing

"I am different ... Equal to the rest of the world."

20
Jan17

Bolhas de sabão.

Perto de umas escadas rolantes, mesmo ao pé de uma esquina para um corredor, vi duas crianças e uma adolescente sentados no chão, rodeados por sacos, à espera de um adulto. Eram três jovens e dois estavam a morrer de tédio. O primeiro da fila já marcava uma posição: a cabeça tombada para trás e os olhos fechados eram indício suficiente de que se ninguém o tirasse dali ele iria adormecer; depois, a rapariga: o cabelo loiro preso num rabo de cavalo, de olhos escuros protegidos por óculos de leitura, a tagarelar ao telemóvel para passar o tempo, gargalhando enquanto agitava os pés e exibia os ténis Adidas; por fim, mais um rapaz: de pernas cruzadas à chinês, com o cotovelo apoiado num joelho enquanto uma mão oferecia apoio à cabeça e os dedos da outra desenhavam círculos no chão do centro comercial. A magia veio no momento em que esse mesmo rapaz foi chicoteado por uma ideia e endireitou ligeiramente as costas com ar de quem vai fazer travessuras. Vi-o a olhar para a rapariga e para o rapaz que o acompanhavam para garantir que estavam suficientemente distraídos, vi-o a olhar à sua volta para ter a certeza de que não era alvo da atenção de ninguém. Ele, claramente não me viu a olhar para si quando fez a mão entrar sorrateiramente dentro de um saco e retirou uma embalagem. Ele esboçou um pequeno sorriso ao desatarraxar a tampa e eu ao ver do que se tratava parei. Ele não iria fazê-lo. Iria? Fê-lo. Encheu os pulmões de ar e soprou para a varinha com arcos. Pequenas bolhas de sabão começaram a flutuar, descontroladas por existirem, umas subindo e outras colidindo com quem caminhava de mente tão confinada nos próprios assuntos para reparar nas bolhas loucas que festejavam a vida e a liberdade. Havia bolhas por todo o lado e nem mesmo a abundância levou o miúdo a querer parar. Estava claramente abstraído do que estava à sua volta e fechado na sua própria esfera, satisfeito e divertido, pouco se importando com o que se podia pensar da festa de sabão num sítio fechado. Eu em pensamentos agradeci-lhe por me plantar um sorriso no rosto, deliciada pela simplicidade das ideias de um petiz para ultrapassar o aborrecimento, sem ter mão na minha criança interior que me fez pensar em baloiços e se quis juntar a ele. 

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