Ela veio e arrasou.
Por muito que dissessem que estava a arrastar-se para o fundo do poço com este último trabalho - a respeito do ARTPOP, leia-se - a verdade é que, creio, bastou ela mostrar-se em palco para as opiniões voltarem a mudar. Ela sambou na cara das críticas. Num sentido figurado mas sambou.
Eu não me importo com sacrifícios para ver um concerto. Quer faça chuva, sol, frio ou calor, no dia de um concerto, a que eu vou, onde me vão encontrar é no local de onde não tiro o pé até o show acabar. Segunda-feira choveu exaustivamente. Sem parar. A única coisa que obtive foram períodos em que a chuva não era tão intensa. O tempo não deu descanso e quando entrei no pavilhão estava completamente encharcada, com o meu bilhete meio húmido e tudo. O meu cabelo estava corrido de tão molhado e a minha cara toda lambida da chuva. É verdade que o concerto da Gaga fez com que tudo isso passasse ao lado - e até me secasse - mas até lá...ui.
Fora uns poucos minutos em que estive sentada numa base de pedra, encharcada, eu, a Smartie e as minhas irmãs estivemos desde as dez até às seis e meia de pé, sem contar com o tempo de espera pela Gaga, dentro do pavilhão, e o próprio concerto. Acho que a espera foi mais chata pelas pessoas que aguardavam pelo mesmo que nós que me surpreenderam e não tanto pela positiva. Eu costumo apreciar as atitudes de um por todos e todos por um presentes nos concertos; aquela sensação de que estamos ali para o mesmo e que, mesmo sem nos conhecermos, conhecemo-nos e somos quase família. Ontem dei com pessoas pouco se lixando para os outros. Não falo de um todo, falo daquilo com que encarei e foi isso. Pessoas com falta de chá e mal encaradas e que deixei de ver assim que fui para dentro do pavilhão, thanks god. A juntar a isto, só mesmo salientar que, pela primeira vez, fui assistir a um concerto, estando completamente ensopada. Mas é assim; quando se gosta, loucuras são feitas.
Ao contrário do concerto do John Legend, ontem houve primeira parte. E, lamento, mas não vão obter opiniões positivas desta boca - ou dedos. O artista que deu a cara por uns quinze (?) minutos não foi nada de jeito mas, ainda assim, conseguiu estar acima da prestação da Lady Starlight que me desiludiu por completo e fez ficar com vergonha depois de eu ter dito, toda lampeira, às irmãs e ao pai, que a mulher era o abuso dos abusos e que iriam adorar. Estava, claro, influenciada pela sua actuação de 2010 que me surpreendeu imenso. Na segunda ela apenas pisou o palco para colocar batidas mais enjoativas que a música de fundo irritante que ficou a dar durante os quartos de hora de compassos de espera até a aparição da Gaga. A desilusão da Starlight foi mais penosa de suportar do que a dor de pés que ainda hoje me atormenta. E asseguro que, pelo menos na zona onde eu me encontrava, várias eram as pessoas que partilhavam a mesma opinião que eu dado que cheguei a perceber uns "que porra é esta?", "quando é que ela pára?" e até um grupo, angustiado, onde uma rapariga estava a tapar os ouvidos. Portanto, sim, muito bom. (Estou a ser irónica, evidentemente.)
Mas chega de coisas más. Vou começar por dizer que estava ansiosa por aquele ambiente que um artista proporciona assim que as luzes se apagam e o seu show vai começar. O meu primeiro pensamento assim que ela apareceu em palco foi "F*ck, estou mesmo a vê-la de novo". Não sei se soa vulgar ou até cliché dizer que adorei para o muito quando estou a falar da minha intérprete - ídola - feminina de topo, no entanto, não vejo outra forma de o afirmar porque quando é bom, mesmo sem ser os nossos ídolos de topo, é assim: falta-nos palavreado e o mesmo remete-se ao básico: adorei.
A Gaga é uma artista que pensa em tudo aquilo que oferece e que sabe exactamente o que pretende transmitir. O melhor de tudo é que a intenção chega lá. Se comparar este com o anterior, ainda afirmo que gostei mais do The Monster Ball. Esse contava uma história e eu apreciei-o tanto...saí de lá tão fascinada...por algum motivo é o concerto que se encontra no topo do top dos melhores que eu já vi. Não que este não fosse bom - pelo amor de Deus, foi soberbo - mas...não há amor como o primeiro e foi o meu primeiro concerto da Gaga que me despertou e fez perceber o top que ela era, que me fez perceber que aquilo que ela mostrava não era fachada e que, na verdade, era uma das pessoas mais bonitas que eu já tinha visto porque não falava por falar, ela falava porque se importava. E continua a importar-se.
Quando perguntei ao pai o que tinha achado do concerto disse-me estar maravilhado - óbvio - mas, para meu espanto, tinha algo a apontar: as suas pausas longas em que fala com o público. Disse que o achou excessivo pelas vezes que o fazia mas por acaso é uma das coisas que eu gosto. Ainda que eu saiba que há pouca espontaneidade nestas coisas, a Gaga, eventualmente, fala quando quer, o que quer. Há ali muito discurso ensaiado mas eu gosto desse discurso. Gosto das suas dicas sobre o amor, sobre igualdade, respeito, sobre a luta pelos nossos sonhos porque são coisas que nunca são demais de ouvir. Isto para não dizer que são um incentivo, também. Ela continua super comunicativa com o público e eu amo isso. Amo-amo-amo um artista que estabelece uma ligação artista-público porque não há nada mais fundamental num concerto. Gostamos de ouvir as músicas ao vivo, sim, mas gostamos de perceber que o próprio artista tem noção que nada é sem os fans. Isso é bonito de se ver e...garanto: a Gaga não se esquece de nós.
Aquela energia é viciante! É bom ir aos concertos de artistas que gostamos mas, gosh, juro que não há nada como um concerto da Gaga. Antes que neguem a minha afirmação: em minha defesa, eu já conto com idas a diferentes concertos no meu reportório para poder afirmar o que disse. O seu power em palco é electrizante e proporciona momentos perfeitos para perder a cabeça com ela. Continua a não existir mais nada. Somos nós e ela a aproveitar um bom tempo e por momentos nada mais importa. É isso que eu gosto tanto. Continua um ambiente envolvente e duvido que haja ali alguém que não se sinta especial e amado, independentemente do que seja e de como seja. Isso é tão fantástico. Adoro, adoro, adoro.
O que eu também adoro é o facto de Lisboa ter ficado para último na agenda da tour. Porque a mulher muda a setlist conforme aquilo que quer e a verdade é que se Lisboa tivesse recebido a Gaga no início da tour teríamos perdido músicas como a Born This Way - que sempre quis ouvir ao vivo -, The Edge os Glory, Judas e a minha querida-querida-queridaaaaaaaaa Yoü & I que eu amo de coração desde que a conheci, igualmente ao vivo, no seu primeiro concerto cá. Se Lisboa tivesse sido um dos primeiros concertos o alinhamento não teria sido tão-tão bom. Sem querer ser esquisita, mas acabando por o ser, foi perfeito assim: uma mistura de hits por que é conhecida com hits de álbuns e, por fim, músicas do novo álbum porque aqui também se conta promover o mesmo. E, yes, sem Jewls n' Drugs à mistura.
Os seus bailarinos, mesmo diferentes em relação ao primeiro concerto, continuam o máximo dos máximos. Não é só a Gaga que faz o espectáculo: eles também têm a sua chance de brilhar pelo seu talento. Aliás, todos ali fazem. Dançarinos, músicos...são todos espectaculares. A Gaga sabe escolher a sua equipa e acho-a humilde o suficiente para dar oportunidade a todos de ter a sua altura de brilhar durante o show.
Posso dizer que foi um concerto do caraças e o segundo a levar-me a lágrimas. A Beyoncé fez-me chorar pela perda do seu filho e a Gaga fez-me chorar igual. E eu solucei, meu Deus, eu solucei. Eu estava a ouvi-la cantar e eu soluçava. Chorei e parei e retomei o choro pelo menos umas três vezes. Assim que a Gaga apresentou ao público a Dope eu sabia que quando a ouvisse ao vivo seria a minha desgraça. É uma música demasiado íntima e sofrida e uma música - talvez a única - onde ela se expõe de verdade e eu não aguento. Ela é uma pessoa com as suas cicatrizes deixadas por um passado doloroso e a Dope mostra-a frágil. Chorei tanto que me pergunto quando voltarei a ouvir Dope novamente. Ouvir Born This Way também me fez chorar um pouco. Gostava de ter ouvido a música como no álbum mas não me vou queixar. Já foi super bom ter a possibilidade de ouvir. Porque, repito, não constou sempre no reportório da artRAVE. E que mais? Ahh, sim: um dos seus discursos sobre o poder do amor e sobre sonhos. O que dizer? Eu sou sensível a estes assuntos em particular, mesmo.
As coreografias eram fantásticas, o design do palco igualmente - que me surpreendeu por estar completo, com as estruturas em forma de árvores/anémonas que eu gosto tanto - principalmente pela oportunidade que dava a todos de terem a Gaga mais perto de si, independentemente do lugar, e, por mim, mesmo com todo o desastre da primeira parte, e a espera debaixo de um dilúvio, eu passava pelo mesmo, da mesma maneira, porque é assim quando vale mesmo a pena.
Estando praticamente junto às grades - tipo, atrás de quem estava - dei super uso à minha máquina fotográfica. E eu nem percebi que tinha tirado tantas fotos, no meio de quarenta e dois vídeos e dos muitos-muitos-muitos momentos em que não fiz mais do que dançar, cantar, ter os braços no ar e aproveitar. Das duzentas e poucas, a que coloquei aí em cima foi uma das que mais gostei, um dos muitos momentos em que ela estava a pouco mais de dois metros de onde eu estava, mesmo à minha frente. E as vezes que ela foi para essa zona, dançando, cantando, passeando, só me permite falar de onde fiquei de barriga cheia. Ao longo do dia andei a colocar alguns vídeos no facebook: Bad Romance [x], Paparazzi [x] e Yoü & I [x]. Outros dois, mais curtos, [x] [x], coloquei no instagram, juntamente com algumas fotos - em ambos os sítios, que podem cuscar à vontade. Estou a atulhar tudo de Gaga pela experiência que foi. É mais um concerto fantástico para o top onde o Portugal, gritado por ela, era igual ao que eu me lembrava; outro concerto dela que me enche de orgulho não só pelo seu trabalho mas pela pessoa que ela é.