Sendo peixe com pernas.
Desde que comecei a ocupar o meu tempo com uma formação percebi que o processo de nos encontrarmos no tempo não acontece uma só vez na vida - horas tardias dão, claramente, para eu entrar a abrir com filosofias -. Entendi-o enquanto bebo o meu chá e como dois bolinhos de areia porque o meu estômago recusa-se a comer muito mais a estas horas. Toda eu tenho sido um processo de ajustamento. A novidade ainda é isso mesmo: uma novidade e eu ainda a trato dessa maneira, abordando-a de diferentes formas na descoberta de qual a melhor via de a acarinhar.
A minha formação de componentes técnicas e informáticas começou há coisa de uma semana e está a ser exactamente aquilo que eu esperava. Sinto-me na minha praia, sinto-me a lidar com assuntos do meu interesse - dos quais percebo - e sinto-me mais do que bem porque é uma das poucas vezes em que não me sinto com um QI inferior à maior parte das pessoas que estão em processo de aprendizagem comigo. A formação tem feito maravilhas ao meu ego que bebe conhecimento informático e isso combate as poucas vezes em que paro, penso e tenho consciência do tempo que a formação me tira. Não é como se antes eu ficasse em casa sem mexer uma palha, todavia, é bom sair de casa e fazer alguma coisa, principalmente se essa coisa vai acabar por arranjar as costuras da minha carteira. O tempo, porém, é que é uma coisa lixada e o que eu sinto é que não o tenho para nada. Se eu acordasse mais cedo, tinha espaço de manobra para tudo o que eu quisesse: tenho perfeita noção disso. Contudo, as minhas manhãs ainda não reclamaram outra finalidade que não a de me proporcionar horas de sono. Chego tarde a casa e recuso-me a ir logo para a cama pois caso contrário a sensação que eu tenho é de que não aproveitei nada de 24 horas para mim própria e assim ainda dou em maluca.
O horário não é pêra doce. Saio de casa a meio da tarde e regresso quase à meia-noite. Ainda que eu esteja a adorar o poço de conhecimento em que estou a mergulhar, sinto-me um bicho fora do mar por o meu novo horário não coincidir com o da maior parte das pessoas com quem me dou. Durante a semana passada vi os meus pais por pouco mais de dez minutos antes de eles se irem deitar, num dia todo, as minhas irmãs pouco mais do mesmo, com excepções caso estejam em casa na hora de almoço ou não, e esta semana, acredito: vai pelo mesmo caminho. E o descanso? Chego a casa tarde, cansada, e mesmo assim obrigo-me a ficar acordada para fazer mais qualquer coisa com o meu tempo, acordo tarde porque fico acordada até tarde e o repouso que sei que preciso continua a plantar couves. O meu sistema está avariado. Está mesmo. Ainda me estou a encontrar no meio da novidade, mas sinto que o hábito vai tratar do assunto, tal como aconteceu com a Ariel, por exemplo, quando se pôs em pé pela primeira vez e se atreveu a andar.
A situação, porém, não é assim tão dramática ao ponto de eu afirmar que estou totalmente ausente do mundo real. Eu posso chegar a casa super tarde, posso mal ver a minha família, posso me ter tornado ainda mais noctívaga, posso ainda estar a aprender a lidar com estes desencontros e sentir que o facto de estar tão ausente do mundo virtual (excepto instagram) faça com que pouco tenha para falar - até comigo mesma -, mas estou a par de novidades. Sei que o Papa vem aí e que o papamóvel já cá está e pronto para as voltinhas. Sei que os Rolling Stones vão iniciar uma nova tour pela Europa e que o Salvador Sobral ainda está na corrida da Eurovisão. Descobri hoje, por acaso, que ele participou nos Ídolos e que, afinal, eu já o conhecia como artista. É incrível: uma pessoa está sempre a aprender.