Eram 23.55 quando ela começou a sentir formigueiro nas mãos. O dia 24 de Outubro estava à distância de cinco minutos e além dela - e do progenitor que ainda se aguentava - estava tudo a dormir. Após uma ida à sala de estar ela deteve-se em frente ao espelho do quarto a fazer mais do que olhar para o seu reflexo. Ela via-se. Ela conseguia ver-se mesmo. E nos poucos segundos em que se deteve no seu rosto ela pensou no antes e no depois, imaginando-se crescida. Ena...mais um nos vinte. A rapariga sorriu para si, ajeitando o cabelo que fora apanhado com alguns ganchos e molas. A aparência ainda que fosse de uma menina crescida contrastava com o interior onde uma vozinha a relembrava do autocolante que desejava pôr na capa do telemóvel.
Ao sentar-se à secretária, a irmã mais nova acordou. Ela rebolou nos lençóis até ficar mais desperta e perceber que o dia 24 de Outubro estava a três minutos de distância. Houve umas piadas pelo meio porque era assim que o dia 24 era sempre recebido: com boa disposição e risadas. Contou-se dois minutos. Contou-se um minuto. Contou-se 45 segundos. Depois, quando o relógio apontou os cinco segundos finais do dia 23, um bip do telemóvel deu sinal de mensagem e à meia noite soou um "Parabéns!" atrás dela. Antes mesmo de responder, ela fechou os olhos e sorriu.
Cum caraças, já são 23 anos.