Muitas foram as vezes que me manifestei em relação ao seminário que eu tinha para fazer, o trabalho que me dava que me obrigava a olhar para praticamente mais nada além disso. Esforcei-me como tudo para o concluir: passei três meses de nariz enfiado nos livros da biblioteca e em documentos digitais, em pesquisa para definir o trabalho que tanto me assombrava sem, ao mesmo tempo, descurar de outras cadeiras que tinha para fazer e ainda tudo o resto, fora do meio académico, que tinha para fazer. Oh, há muita gente capaz de mais, que se atira em muitas mais obrigações do que aquelas que eu tinha, mas o que eu tinha em mãos era o suficiente para eu me sentir uma Super. Em pouco mais de três meses eu reduzi drasticamente as minhas horas de sono. Fui a aulas, tratei de pesquisa para o seminário, debrucei-me em trabalhos para outras cadeiras, passei fins-de-semana exaustivos, exclusivamente dedicados a limpezas, por dias em que passei pilhas de roupa por horas e à noite ainda me ia atirar a estudo, fiz filmagens e a edição de um vídeo surpresa para o aniversário do meu pai, tratei da sua festa e ainda aproveitei pequenos momentos para respirar onde fui ao cinema, concertos e passear para tirar fotografias: estes três sem dúvida o bálsamo para a minha alma.
Ontem saí com metade de um calmante no organismo porque era necessário. Apanhei o autocarro que me iria levar à estação de comboios e apanhei o comboio que me iria levar a Lisboa. Durante o caminho ouvi 30 Seconds to Mars, Muse, Kings of Leon, Coldplay e Sia para manter o meu espírito firme. Ter uma conversa sobre um trabalho já é mau para mim; quando este é a respeito do final do teu curso o pânico é ainda maior. Porque o seminário é sobre isso que se trata: um trabalho de final de curso que tem de ser exposto a professores. Isto, aliado a uma outra cadeira que ainda estou a agarrar pelos cornos, era o meu monstro pessoal. Tinha medo de não conseguir apesar do meu esforço porque, infelizmente, a quantidade de tentativas a que já me remeti neste curso já me feriu o bastante para eu, sempre que me atiro numa nova tentativa, fique com medo com que poderá vir. Passei três meses praticamente na incógnita com o prof que me estava a orientar o trabalho e três meses a ouvir críticas da prof que estava a dar o seminário. A cada semana que passava eu apresentava-lhe mais coisas, melhorava em relação à semana anterior e ela sem se mostrar capaz de me dizer uma palavra encorajadora durante todo esse tempo. Cheguei a pensar em desistir uma vez ou outra mas foram pensamentos com tão pouca intensidade que me espantei a mim mesma. Então, apesar das críticas, apesar de não me sentir encorajada, fiz a única coisa que me pareceu ser possível fazer: continuar a tentar e a tentar, agarrada às coisas que gosto para manter a cabeça fora de água enquanto o meu corpo se afundava. E eu tanto tentei que ao aproximar-me do final das aulas a prof começou por fim a elogiar o meu trabalho e a dizer-se surpreendida pela positiva. E o prof que estava a orientar o meu trabalho: esse afirmou estar impressionado e curioso quanto ao que eu iria apresentar.
Tinha dois trabalhos a entregar na mesma data e durante uns dias eu estive consumida pelo stress. O trabalho que eu estava a fazer para o seminário levou referências à Alice no País das Maravilhas, ao Inside Out, a um romance da Michelle Holman e a outro da Nora Roberts; gerou infinitos bloqueios que me levaram a vários prantos e o último foi realmente crítico ao ponto de eu precisar que alguém interferisse para me colocar a cabeça no lugar porque não estava a conseguir escrever. Contudo, consegui. Consegui acabar de escrever, entreguei o trabalho dentro da data limite e voilà: ontem fui expor o meu trabalho oralmente, nervosa como tudo, dando pouca relevância ao facto de no sábado o prof responsável pelo meu trabalho ter dito que tinha gostado muito do mesmo, dando pouca relevância ao facto de ontem, mesmo antes de eu começar a expor, o prof em questão ter dito "parabéns, já foi aprovada"; os nervos, senhoras e senhores, são lixados, tremendamente lixados.
O meu modo para lidar com este trabalho foi simples: uma vez que todos os trabalhos que fiz com prazer até então foram relacionados com coisas que me interessam e gosto, tratei de fazer isso com o seminário. Peguei no tema da identidade porque, no semestre passado, fiz um trabalho sobre moda e relacionei esse tema com a identidade e adorei. Depois limitei-me a expor-me: a usar Disney e histórias de amor para clarificar as minhas ideias sobre as perspectivas de filósofos, limitei-me a colocar um bocado de mim e a rezar que tudo, com a magia certa, desse resultado.
Ontem estive a ponto de passar mal pelo coração que me saía do peito e ontem tive uma das melhores sensações de sempre quando, após deliberarem a nota que me iriam dar, os professores me informaram que eu fiz o seminário e que o concluí com uma nota bem superior à que eu pensava que iria ter quando comecei a investir neste trabalho. Estou a começar a respirar fundo e a sentir que consigo lidar com isto. Consegui não chorar depois de saber a minha nota e que tinha ultrapassado um obstáculo tão grande que tinha à frente. Liguei para os meus pais e avisei quem me tinha oferecido o seu apoio; eles sem noção de que com isso me tinham oferecido o mundo. Fui o caminho todo para casa a sorrir e no autocarro, satisfeita e orgulhosa pelo meu esforço, respirei fundo e sorri mais: o autocarro cheirava a batatas fritas.
Sabe tão, tão bem ver o meu esforço realmente recompensado, sabe tão bem sentir que estou a duas pegadas de dinossauro de terminar o curso. Falta tão pouco...! Como disse a Tiana: "foram testes e problemas que eu não vou esquecer...subi a montanha, atravessei o rio, estou quase lá, estou quase lá, estou quase lá!"